sábado, 19 de novembro de 2011

Poemas - Álvares de Azevedo


Lembrança de Morrer

Quando em meu peito rebentar-se a fibra,
Que o espírito enlaça à dor vivente,
Não derramem por mim nem uma lágrima
Em pálpebra demente.

E nem desfolhem na matéria impura
A flor do vale que adormece ao vento:
Não quero que uma nota de alegria
Se cale por meu triste passamento.

Eu deixo a vida como deixa o tédio
Do deserto o poento caminheiro...
Como as horas de um longo pesadelo
Que se desfaz ao dobre de um sineiro...

Como o desterro de minh’alma errante,
Onde fogo insensato a consumia,
Só levo uma saudade — é desses tempos
Que amorosa ilusão embelecia.

Só levo uma saudade — e dessas sombras
Que eu sentia velar nas noites minhas...
E de ti, ó minha mãe! pobre coitada
Que por minhas tristezas te definhas!

De meu pai... de meus únicos amigos,
Poucos, — bem poucos! e que não zombavam
Quando, em noites de febre endoudecido,
Minhas pálidas crenças duvidavam.

Se uma lágrima as pálpebras me inunda,
Se um suspiro nos seios treme ainda,
É pela virgem que sonhei!... que nunca
Aos lábios me encostou a face linda!

Ó tu, que à mocidade sonhadora
Do pálido poeta deste flores...
Se vivi... foi por ti! e de esperança
De na vida gozar de teus amores.

Beijarei a verdade santa e nua,
Verei cristalizar-se o sonho amigo...
Ó minha virgem dos errantes sonhos,
Filha do céu! eu vou amar contigo!


Descansem o meu leito solitário
Na floresta dos homens esquecida,
À sombra de uma cruz! e escrevam nela:
— Foi poeta, sonhou e amou na vida. —



Sombras do vale, noites da montanha,
Que minh’alma cantou e amava tanto,
Protejei o meu corpo abandonado,
E no silêncio derramai-lhe um canto!



Mas quando preludia ave d’aurora
E quando, à meia-noite, o céu repousa,
Arvoredos do bosque, abri as ramas...
Deixai a Lua pratear-me a lousa!


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Soneto do Anjo

Pálida, à luz da lâmpada sombria, 
Sobre o leito de flores reclinada,
Como a Lua por noite embalsamada,
Entre as nuvens do amor ela dormia!


Era a virgem do mar! Na escuma fria
Pela maré das águas embalada...
- Era um Anjo entre nuvens d'alvorada,
Que em sonhos se banhava e se esquecia!



Era mais Bela! o seio palpitando...
Negros olhos, as pálpebras abrindo...
Formas nuas no leito resvalando...



Não te rias de mim, meu Anjo lindo!
Por ti - as noites eu velei chorando,
Por ti - nos sonhos morrerei sorrindo!



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Ps¹.: Hoje acordei assim, ultra romântico, bem... Algo me diz que a Bárbara vai gostar bastante disso, tal como os poemas sempre são oferecidos à ela!  Te amo Pequena... E hoje o Lobo aqui tá mais apaixonado do que nunca!

Ps².: Simplesmente achei essa imagem fantástica e quis compartilhar com os Leitores do Arcanjo Lycan, ainda mais num post que eu gostei tanto!

Arcanjo Lycan

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