Entende-se
por metamorfose a transformação física de um ser humano em besta, e, por
zoomorfização, o comportamento do indivíduo semelhante ou igual à besta. A
metamorfose pode ocorrer sem que o indivíduo se comporte como o animal
metamorfoseado, ou seja, uma besta com comportamento humano, ou então o
inverso, em que não ocorre transformação física, porém o ser humano se comporta
de forma bestial. O ponto culminante dessas duas características seria o ser
humano transformado fisicamente em besta e comportando-se como tal.
O
primeiro contato da sociedade ocidental com a metomorfose e a zoomorfização,
segundo os registros históricos conhecidos até hoje, foi com a mitologia,
através das obras de Homero, como Ilíada e Odisséia, das Metamorfoses, de
Ovídio, do Eddas, das Sagas, entre outros.
Os
monstros mitológicos já demonstram sua particularidade metafórica de terem sido
esquecidos por Deus, seres demoníacos e fabulosos que expressam sua agonia, dor
e tristeza. Mary Del Priore trabalhou este tópico de forma exemplar:
“Se, na bíblia, Deus anunciara que faria o homem à sua imagem e semelhança, o monstro significava uma ruptura com esse princípio. Mais além, o Levítico anunciava que os homens marcados por sinais físicos não poderiam oferecer serviços a Deus. Nessa lógica, o mudo revelaria, no silêncio da boca, as marcas de sua intimidade com o inferno, onde pinças de ferro lhe teriam arrancado a língua. O surdo, insensível à palavra de Deus, seria sensível unicamente aos rumores infernais. O cego tivera os olhos queimados pelo calor do inferno. O aleijado deveria seu desequilíbrio àquele de sua alma. O corcunda traria o peso de sua maldição às costas, sobre a qual se sentava, de tempos em tempos, seu mestre,o diabo. (PRIORE, 2000, p. 35).”
É
exatamente este o ponto de partida para os estudos alegóricos que seguem acerca
da licantropia: os monstros e monstruosidades mitológicas e a sua
representatividade da dor e da misantropia.
Logo,
os monstros nunca deixaram de fazer
parte da sociedade; muito pelo contrário, eles a representam. É um mundo
alheado, mas intrínseco; repudiado, mas sempre presente. O licantropo começou a
se fazer presente na sociedade monstruosa alegórica entre os séculos XVI e
XVIII, perante acontecimentos que facilmente denunciam a sua constituição
horrorosa.
No
Brasil, a licantropia era uma punição a relações incestuosas. Em Portugal, no
século XVIII, o filho mais novo que não tinha o irmão mais velho como padrinho
era metamorfoseado. Observando esses fatos, fica fácil perceber sua relação
mítica, citada anteriormente. Na literatura latina, na obra Metamorfoses, de
Ovídio, há talvez o primeiro caso de licantropia registrado: o mito de Licaón.
Licaón,
rei da Licaônia, era um tirano, um ditador supremo, que causou horror aos
deuses do Olimpo quando serviu as cabeças dos filhos de Júpiter ao próprio pai
como refeição. Seu costume canibal, sua necrofagia causou estranhamento aos
deuses, que resolveram puni-lo, transformando-o em lobo, fazendo-o vagar em
melancolia eterna pelo resto de sua existência:
Colhem do coração braveza os dentes,Co matador costume os volve aos gados:Inda sangue lhe apraz, com sangue folga.A veste em pêlo, as mãos em pés se mudam,É lobo, e do que foi sinais conserva:As mesmas cãs, a mesma catadura,E os mesmos olhos a luzir de raiva."
OVÍDIO, 2003, p. 25.
Esse
primeiro caso de licantropia certamente influenciou autores ulteriores, devido
à dentificação do ódio, da raiva e da melancolia com o ser lupino. O Romantismo
do século XIX talvez tenha sido o período que mais sofreu inspirações desses
seres.
2 comentários:
Nossa parceria tá dando certo hein Lobístico, ótima seleção de imagens!
Oh Obrigado Gabriel! Estava bastante preocupado com isso!
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