Kiwi parou e ergueu o focinho
para conferir o cheiro dos lobos que haviam raptado Lola. Certa mudança por
causa do vento, mas nada que confundisse seu olfato. Caminhou de um lado para o
outro, impaciência em crescendo. A perseguição fora incessante por mais de
1.131 km de acordo com os cálculos de Alfajor, o coelho branco e gorducho que
trabalhava como chef no Bosque Amarelado. Kiwi olhou para a Srta.
Caixa-de-Suco, ofegante e exaurida. Gostaria de falar que estavam próximos do
objetivo e que em breve retornariam para casa, mas não podia.
- Vamos, o cheiro deles está
forte, não devem estar longe. – disse no tom mais confiante que podia fingir.
Srta. Caixa-de-Suco
aproximou-se e, sem esconder sua irritação, disse:
- Por que eu não acredito em
você?! Você tem dito a mesma coisa desde o momento em que saímos de casa,
passamos por cachoeiras, florestas e vales espinhosos e não ficamos nem um
pouco mais perto, Kiwi. Cada pedaço quer se soltar do meu corpo.
- Tenha fé. Nós estamos muito
pertos agora. Confie em mim, sei o que estou fazendo.
Srta. Caixa-de-Suco o empurrou
e respondeu:
- Se eu pudesse voltar no
tempo, eu não estaria aqui, estaria no bosque, tomando um ótimo suco de cenoura
na minha toca quente e mobiliada. E não aqui! Eu odeio dormir a céu aberto, na
grama suja. Odeio até você no momento.
- Eu não pedi sua companhia,
você foi a primeira pessoa a se oferecer para vir, prima. Quer ir embora? Pois
bem, vá… Será uma longa estrada para casa. Mas eu irei salvar a Princesa Lola.
Alfajor entrou desajeitadamente
no meio e disse:
- Não briguem. Estamos cansados
e isso não vai nos ajudar, temos que salvar a princesa. Esse é o nosso
objetivo. Já passamos por coisas mais complicadas.
- Eu não quero brigar com esse
cabeçudo. – disse Srta. Caixa-de-Suco – Só quero matá-lo da forma mais lenta e
dolorosa possível.
Kiwi virou as costas e
continuou a caminhar sem cair na provocação da outra, que seguia em silêncio ao
lado de Alfajor. Sentia todos os músculos retesados, as pernas pesadas e as
pálpebras caindo. Recusava-se a desistir. Deixou que a lembrança do Bosque
Amarelado e das duas estradas que o circundavam viesse à tona. Os dias que
passara com Lola perto do lago onde os cisnes faziam suas reuniões mensais –
com seus relatórios cheios de números. E principalmente o dia em que ela
aceitara namorá-lo, o mesmo em que fora sequestrada. Quantas estradas ele
deveria percorrer, antes de finalmente abraçá-la? Não importava. Iria tanto
pela mais tumultuada quanto pela menos viajada e isso faria a diferença.
Texto: Jim Anotsu
Arte: Fernando Salvaterra
Lambido de Quotidianos
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