terça-feira, 6 de agosto de 2013

Interlúdio

(Um pouco antes da história).

Kiwi parou e ergueu o focinho para conferir o cheiro dos lobos que haviam raptado Lola. Certa mudança por causa do vento, mas nada que confundisse seu olfato. Caminhou de um lado para o outro, impaciência em crescendo. A perseguição fora incessante por mais de 1.131 km de acordo com os cálculos de Alfajor, o coelho branco e gorducho que trabalhava como chef no Bosque Amarelado. Kiwi olhou para a Srta. Caixa-de-Suco, ofegante e exaurida. Gostaria de falar que estavam próximos do objetivo e que em breve retornariam para casa, mas não podia.

- Vamos, o cheiro deles está forte, não devem estar longe. – disse no tom mais confiante que podia fingir.

Srta. Caixa-de-Suco aproximou-se e, sem esconder sua irritação, disse:

- Por que eu não acredito em você?! Você tem dito a mesma coisa desde o momento em que saímos de casa, passamos por cachoeiras, florestas e vales espinhosos e não ficamos nem um pouco mais perto, Kiwi. Cada pedaço quer se soltar do meu corpo.

- Tenha fé. Nós estamos muito pertos agora. Confie em mim, sei o que estou fazendo.

Srta. Caixa-de-Suco o empurrou e respondeu:

- Se eu pudesse voltar no tempo, eu não estaria aqui, estaria no bosque, tomando um ótimo suco de cenoura na minha toca quente e mobiliada. E não aqui! Eu odeio dormir a céu aberto, na grama suja. Odeio até você no momento.

- Eu não pedi sua companhia, você foi a primeira pessoa a se oferecer para vir, prima. Quer ir embora? Pois bem, vá… Será uma longa estrada para casa. Mas eu irei salvar a Princesa Lola.
Alfajor entrou desajeitadamente no meio e disse:

- Não briguem. Estamos cansados e isso não vai nos ajudar, temos que salvar a princesa. Esse é o nosso objetivo. Já passamos por coisas mais complicadas.

- Eu não quero brigar com esse cabeçudo. – disse Srta. Caixa-de-Suco – Só quero matá-lo da forma mais lenta e dolorosa possível.

Kiwi virou as costas e continuou a caminhar sem cair na provocação da outra, que seguia em silêncio ao lado de Alfajor. Sentia todos os músculos retesados, as pernas pesadas e as pálpebras caindo. Recusava-se a desistir. Deixou que a lembrança do Bosque Amarelado e das duas estradas que o circundavam viesse à tona. Os dias que passara com Lola perto do lago onde os cisnes faziam suas reuniões mensais – com seus relatórios cheios de números. E principalmente o dia em que ela aceitara namorá-lo, o mesmo em que fora sequestrada. Quantas estradas ele deveria percorrer, antes de finalmente abraçá-la? Não importava. Iria tanto pela mais tumultuada quanto pela menos viajada e isso faria a diferença.


Texto: Jim Anotsu


Lambido de Quotidianos

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.