Noite alta, sem estrelas,
vento forte e uma chuvinha fina sobre a pequena e deserta cidade. Um homem
caminha depressa pelas ruas mal-iluminadas. De repente, ele para. Atento,
parece escutar melhor algum ruído distante. Ou... próximo demais. Sente que alguém,
ou alguma coisa, está perto. Vigiam-no. Ansioso, apressa o passo.
Mas, quanto mais rápido
caminha, maior é o pavor que toma conta da sua alma. Olha para trás. Não há
nada na rua vazia. Tropeça na calçada e cai. Levanta-se sujo de barro e,
completamente apavorado, começa a correr o mais que pode. O coração parece
querer sair pela boca. Tem certeza de que algo o persegue. E, na esquina
escura, vê o vulto.
A visão é rápida, mas o
suficiente para eriçar os cabelos da nuca. Com um arrepio na espinha, congelado
de pavor, ele ouve um rosnar. É o Lobisomem! Ele sente que está prestes a
tornar-se vítima da fera. Entra em pânico, grita por socorro e procura um
refúgio, rezando e chorando pelo Divino. Inutilmente.
Quando percebe, está
encurralado diante de uma cerca ou um barranco. Não importa. De joelhos, olhos
cheios de lágrimas, em soluços, ele vê a criatura surgir da escuridão.
Rosnando, dentes à mostra, a besta caminha vagarosamente em direção da presa. O
homem sabe que está indefeso. Um bote, uma só dentada. Direto no pescoço.
Carótida em frangalhos, a vítima jaz prostrada. Sobre ela, refestela-se em
sangue o Lobisomem.
Depois, meio bicho meio
gente, a fera parte em desabalada correria. Tudo que se move, homens ou
animais, é atacado. Até que, ao primeiro cantar do galo, saciada sua sede, o
Lobisomem retorna ao lugar da transformação. Lá, vagarosamente, vai reassumindo
sua condição humana. A fera volta a tornar-se homem. Um homem cansado, com
cotovelos e joelhos ensopados de sangue. Um homem solitário que se recolhe
nessa condição à espera da próxima noite de quinta para sexta-feira, quando
ocorrerá outra transformação.
A exemplo da
Mula-Sem-Cabeça, um ferimento que derrame o sangue do Lobisomem quebrará o
encanto. Dizem que o Diabo aparece nessa hora e lambendo o sangue da fera,
considera cumprida a sina do infeliz, liberando-o da maldição. Outras versões
afirmam que o Lobisomem se cura da maldição ao sugar o leite do seio de uma
mulher.
Origem da Lenda
A origem da lenda do
Lobisomem remonta à Grécia Antiga. Espalhada pela Europa e América, a lenda do
Licantropo Grego, do Versiopélio de Roma, do Loupgarou Francês, do Werwolf ou
Werewolfe Saxão, Obototen Russo e Lobisomem Espanhol ou Português é uma das
mais populares do mundo.
Características exclusivas
do Lobisomem brasileiro são difíceis de definir, mas permanece digna de nota a
facilidade de identificação da fera em seu estado normal, como homem. Nesses
casos, apresenta-se como alguém muito magro, de pele clara e aspecto doentio de
pessoa anêmica, que precisa de sangue para sobreviver.
Em geral, a sina é uma questão de sorte. Nasce-se Lobisomem, bastando para isso ser o sétimo filho homem. Em algumas regiões, este ser é resultado de uma ligação incestuosa; e a fatídica bala embebida em cera de vela santificada é um aspecto digno de observação, como forma de abater a fera.
As várias formas adquiridas
– de homem-lobo, homem-cão, homem-porco, homem-bezerro, etc. – nos remetem à
África, onde as transformações dos homens nos mais variados animais aparecem
registradas por todo o continente. A lenda do Lobisomem não é, como tantas
outras, genuinamente brasileira, mas merece estar aqui como uma das mais
populares do país.
Lambido de DANA
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