terça-feira, 29 de maio de 2012

Poesias de Jorge Simões


| O Lobisomem

Ninguém quer nada com um rapaz diferente
Que percorre solitariamente as ruas
Às horas mortiças de pálidas luas
Quando os incautos dormem longamente

Ninguém quer nada com um rapaz soturno
Em contato agreste com a natureza
Tímida e selvagem, feita de incerteza
Raio fulgurante sob o céu noturno

E todos ignoram o seu uivo triste
O seu arranhar de portas e muros
O seu caminhar por becos escuros
Onde a raiva mora e a norma não existe

Também assim tantos percorrem vidas
Escondendo nas sombras a duplicidade
Num mundo aparente de normalidade
Em que com os iguais vão lambendo as feridas.


| Os Espectros

Os espectros perseguem-nos no escuro
Sem pertença ao futuro ou ao passado
Essas sombras que não são de nenhum lado
Essas coisas infantis de olhar impuro

Vagueiam talvez pelo não-lugar
Que sentimos como algo real
Onde se esbate todo o bem e o mal
E onde se dilui todo o pensar

Não são metáforas de nada
São o mero vácuo e a negridão
Os restos crus de uma indigestão
Ou os sons sentidos da noite calada

E não servem qualquer finalidade
Nem de nos fazer pensar no universo
Nem de nos fazer criar um verso
Esses monstros do vazio sem idade

São o próprio retrato da existência
A verdadeira, sem vãos misticismos
As fases do sono e dos abismos
Que confundem e entretêm a ciência


Jorge Simões

3 comentários:

Jorge Simões disse...

Obrigado pela inclusão, é sempre agradável - quando se faz o que se deve: indicar o autor e a origem. Como aqui sucedeu... Abraço.

Jorge Simões disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

Nós que agradecemos pelo seu excelente trabalho! Grande Abraço!

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