sábado, 9 de janeiro de 2016

O Lobo - Grande Matador - A Mitologia do Lobo - Parte IV



Então, até que ponto são reais os Homens-Lobos?

H.P.B. descreve-nos assim este fenômeno: “Fisiologicamente é uma doença ou mania, durante a qual uma pessoa se sente lobo e atua com tal. Ocultamente, significa o mesmo que a palavra inglesa “WerWolf”, a faculdade psicológica de certos feiticeiros de aparecer ou apresentar-se com aparência de lobos”.

Com efeito, alguns indivíduos psicóticos, imaginando ser lobos, comportaram-se de modo agreste e selvagem, rasgando carne crua, delirando, evitando o contato humano e deixando de se preocupar com a comodidade pessoal ou com a proteção contra os elementos naturais. Os relatos sobre este tipo de comportamento não são raros.

As sociedades antigas, que nos revelam claramente os seus mitos, sabiam que existia uma relação definida entre a lua e a violência. Mas, provavelmente, esta lenda recebeu ímpeto adicional no Séc. XVII, quando se tratava de confinar loucos e “lunáticos” a hospitais e prisões. Como vimos, alguns maníaco-depressivos podem ver estimulada a sua conduta maníaca mais frequentemente durante a lua cheia. Nesses momentos aceleram-se os seus processos vitais unidos a seus ataques de agressividade selvagem, o que reforçou a lenda do homem-lobo nos séculos passados. Até 1808 era comum, durante essa fase da lua, acorrentar e espancar os internos do famoso hospital Bedlam, em Londres, para “impedir a violência”.

Sem duvida a história demonstra que a sociedade foi muito cruel com essa figura patética do homem-lobo. H.P.B., por exemplo, fazendo um pouco de história disse textualmente: “Voltaire afirma que no departamento de Jura, no espaço de dois anos, entre 1598 e 1600, uns seiscentos licantropos foram sentenciados à morte por um juiz demasiado cristão. Isto não significa que os pastores acusados de heresia e vistos como lobos tivessem o poder de se transformar fisicamente nos ditos animais, mas simplesmente de que possuíam o poder hipnotizador de fazer crer as pessoas (ou aquelas que consideravam seus inimigos) que estavam a ver um lobo, quando na realidade não havia nenhum. O exercício de tal poder é verdadeira heresia”.

Os romanos chamavam lobas ás prostitutas, daí vem a palavra prostíbulo, e acreditavam também que a estranha metamorfose podia produzir-se se se encolerizava a aterradora Hécate. Os Xamanes e bruxos usaram sempre em seus ritos as formas de animais totémicos. É provável que a licantropia se tenha originado desse modo, pois o lobo foi um importante animal totémico. O professor Lieber, no seu estudo sobre o influxo da lua, afirma de modo taxativo: “Quando um homem é capaz de aceitar as tendências “lobitas” existentes no seu interior – sua herança evolutiva - , não necessita mais de uma vitima propiciatória, nem humana nem animal”.

Evidentemente, mais além das balas de prata disparadas ao coração e mais além dos espetaculares efeitos de maquiagem dos filmes, o homem-lobo tem uma realidade física e, mais ainda, esotérica.

O Lobo nas Iniciações Guerreiras

Tomando como ponto de partida a realidade esotérica do homem-lobo, vamos ver como a imitação ritual deste poderoso animal é um traço específico das iniciações guerreiras.

Em Esparta, durante a provação, o Couros lacedemônio vivia todo o ano como se fosse um lobo; oculto nas montanhas, alimentava-se do que roubava e tinha muito cuidado para que ninguém o visse. Entre os Koryakos e algumas tribos norte-americanas como os Kwakiult, antes de partir para a guerra, executavam as danças do lobo e a porta da cabana iniciática tinha a forma do focinho do animal. O guerreiro transformava-se em lobo como forma de preparação mágica para a guerra. Por isso Mircea Eliade disse: “Muitas lendas e crenças populares sobre o homem-lobo poderiam explicar-se por um processo de folclorização, quer dizer, pela projeção no mundo da fantasia de uns rituais concretos, xamânicos ou de iniciação guerreira”.

G. Dumèzil demonstrou a sobrevivência de certas iniciações guerreiras entre os celtas e os romanos, enquanto que H. Jeeanmaire encontrou rastos desses ritos iniciais entre os lacedemônios. Parece, assim, que os indo-europeus compartilhavam um sistema comum de crenças e de ritos próprios dos jovens guerreiros.

A iniciação guerreira consistia essencialmente na transformação do jovem guerreiro em “fera”. Não se tratava unicamente de bravura, força física ou capacidade de resistência, mas de uma experiência mágico - religiosa que modificava radicalmente o modo de ser do jovem guerreiro. Tratava-se de uma transformação ritual em lobo, a qual implicava a solidariedade mística com uma divindade da guerra capaz de se manifestar em forma de lobo (como por exemplo o deus Marte).

Entre os antigos germanos, os guerreiros-feras eram chamados Berserkir ou Berserks, literalmente “guerreiros revestidos de (serk) ossos”. Eram conhecidos como Ulfhedhnar, “homens com pele de lobo”. Desta forma o Berserk era possuído pelo “Wut”, o “furor heroicus” dos romanos. A mitologia viking diz-nos que só os guardiães principais de Odin podiam pertencer à fraternidade secreta dos guerreiros “berserkir”. Alguns historiadores afirmam que, com o decorrer do tempo, ao perder-se a verdadeira implicação esotérica, os berserkir eram simplesmente guerreiros que adotavam formas brutais, comendo carne crua e proferindo alaridos que provocavam a aversão dos seus próprios companheiros.

Nas legiões romanas também se concedia de modo seletivo a pele de lobo. De fato, só punham a pele de lobo soldados de classe especial, como o Cornicem ou Corneta e os Signifer ou Porta-estandarte dos Signum. Apesar de em épocas diferentes ter sido a vestimenta de campanha de corporações inteiras de soldados de Velites ou soldados de infantaria ligeira. A assimilação da pele de lobo como indumentária própria de alguns elementos das legiões romanas parece ter sido por influência dos Dacios do Danúbio, segundo Eliade.

 Os textos irídios falam repetidas vezes de “lobos de duas patas”, afirmando, inclusivamente, que os lobos de duas patas são mais mortíferos que os de quatro patas. Neste caso referiam-se aos membros dos Männerbünde ou fraternidades secretas de guerreiros irídios.

Podemos concluir dizendo que a procura desse “furor heroicus” do lobo, a imitação ritual dessa valorosa criatura, colocando em si a sua pele, foi um fenômeno amplamente difundido entre os melhores guerreiros desde a mais remota antiguidade; acrescento que na década dos anos vinte, o movimento “nazi” na Alemanha, formou a “organização dos homens-lobos”. (Recordemos que “lobo” era o sobrenome de Adolfo Hitler). Supõe-se que no fim da 2ª Guerra Mundial esta organização continuou lutando em guerrilha contra os aliados. Nada se sabe sobre a sua organização interna, desconhecemos se praticavam algum tipo de cerimonial, mas é evidente que os seus membros tinham bastantes problemas em conseguir manter-se vivos e ocultos nas montanhas. 

Fique então, como conclusão, que esse furor heroico que o guerreiro procurou através dos séculos, não foi mais do que a necessidade dessa força imparável, dessa potencia natural, desse lobo enfurecido capaz de arrasar as barreiras que a matéria opõe à elevação do ser humano no seu aspecto espiritual. O furor heroico do lobo não se pode ver, num ser humano, como a brutalidade ou destruição cega, sinal claro de ínfima evolução. É a própria consciência espiritual do sagrado Marte, o Deus-lobo, que arremete de forma consciente e imparável contra o pior inimigo do guerreiro, que é sem duvida a parte mais baixa de si mesmo. O guerreiro místico de todos os tempos sabia que esse grande lobo estava latente no seu interior e que podia enaltecer-se à voz do grande deus, à voz do “lobo supremo”; por isso disse certa vez: Ares vigilia! 

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