sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

O Lobo - Grande Matador - A Mitologia do Lobo - Parte III

O Lobo Como Símbolo dos Fugitivos

Em consequência da implacável guerra que o homem lhe declarou, o lobo tem sobrevivido como o eterno fugitivo graças à sua notável inteligência e inesgotável resistência física. Os velhos “armadilhões” de sempre conhecem a dificuldade de enganar os lobos com as suas artimanhas de armadilhas e ratoeiras; parecem ter um sexto sentido para detectar estes perigos, evitando-os a tempo, como se Marte os quisesse proteger a todo o custo. Este fato foi desde sempre conhecido.

Entre numerosas populações indo-europeias, os emigrados, exilados e fugitivos eram apelidados de “lobos”. Já nas leis Hititas se dizia de um proscrito que “se havia convertido em lobo”. Nas leis de Eduardo, o Confessor, o proscrito tinha de levar uma máscara de lobo (wolfhede). O patíbulo era designado em anglo-saxão “árvore da cabeça do lobo”. Numerosos deuses protetores dos exilados e dos proscritos ostentavam atributos ou nomes relacionados com o lobo. Como vimos, é o caso de Zeus Lykoreios e Apolo Lykeios. Rómulo e Remo, filhos do deus-lobo Marte e amamentados pela loba do Capitólio, também foram fugitivos desde a mais tenra infância. Segundo a lenda, Rómulo teria estabelecido no Capitólio um lugar de asilo para exilados e proscritos. Sérvio disse-nos que este “asylum” se encontrava sob proteção do deus Lucoris, que se identificava com o Lykoreus de Delfos. A tradição narra a aventura de Lopichis, antepassado do historiador Paulo Diácono que sendo prisioneiro dos Avaros, evadiu-se e foi guiado por um lobo até a sua pátria, Itália.

Há motivos para acreditar que são esses ritos e crenças, intimamente relacionados com uma ideologia guerreira, que tornaram possível a assimilação dos fugitivos, exilados e proscritos aos lobos. Para poder subsistir, esses proscritos comportaram-se como os bandos de jovens guerreiros, ou seja, como verdadeiros lobos. É sabido que, até ao século XIX, as reuniões de jovens continuaram a incluir um banquete com víveres roubados a viva força, atemorizando as aldeias.

Licantropia, a Lenda do Homem-Lobo

O que é a licantropia? Usemos o sofrido dicionário, supostamente da Real Academia, que diz o seguinte: Licantropia, mania na qual o enfermo imagina estar transformado em lobo.

Será possível? O Satiricon oferece-nos uma versão completa do mito do homem-lobo. Efetivamente, um dos primeiros relatos desta metamorfose maligna aparece num dos contos de Petrônio. Um livro não menos divertido e maravilhoso, As mil e Uma Noites, no seu capitulo sétimo, conta o que Basco Ibañez traduz como “História do príncipe e a vampira”, mas como os vampiros nunca devoraram, mas apenas sugaram as suas vitimas, é evidente que se trata de uma mulher loba. Inclusive o seu afã de matar o príncipe e alimentar os seus cachorros com sangue fresco, é instintos de loba, a qual reparte sempre a presa com os seus cachorros. Platão e o historiador Heródoto, já tinham falado da licantropia. Eles mencionaram também o acônito, essa planta de dupla utilização que por um lado induz o homem a converter-se em lobo e por outro o cura da licantropia.

Os nossos antepassados não puderam deixar de observar que o lobo tem uma relação especial com a lua. Os uivos do “noivo de Hécate” pela sua amada deviam ser uma serenata constante para os homens que seguiam as matilhas selvagens. Sob a luz brilhante da lua cheia, os lobos comunicam por meio de uivos e assim se reúnem para caçar. A lua constitui uma grande vantagem para o predador noturno, e o homem emulou o seu concorrente. A lenda da licantropia persiste porque o lobo teve um papel importante no desenvolvimento dos hábitos humanos de caça. O professor e psicólogo, Robert Eisler, assegura que a lenda do homem-lobo procede de um passado obscuro: quando os homens aprenderam a caçar.

Sem dúvida, Robert Graves escreveu que os guardadores de gado da antiga Arcádia conceberam um papel diferente para o homem-lobo, mais alinhado com as necessidades do seu modo de vida. Segundo a teoria religiosa Arcádia, enviava-se um homem a viver com os lobos, este se convertia em homem-lobo durante oito anos e persuadia os lobos a deixarem tranquilos os gados dos homens e os seus filhos. Segundo a mitologia, Licaón, o primeiro rei de Arcádia foi convertido em lobo por oferecer a Zeus o corpo de uma criança habilmente cozinhado. Na Arcádia tinham o costume de imolar uma pessoa e, os assistentes do ato “comungavam” devorando as suas entranhas. Ficavam então convertidos em lobos e conservavam essa forma por oito anos, após os quais recuperavam a figura humana se durante esse tempo não tivessem comido carne humana.

Na França há muitos relatos de seres que, à luz da lua, têm o poder de chamar e dirigir matilhas de lobos. Os que estudaram o comportamento destes cães selvagens sabem que um ser humano pode constituir-se líder de uma matilha nas mentes dos lobos. Algumas pessoas reuniram matilhas de lobos, como o personagem de Kipling no “O Livro da Selva”. Recordemos os trabalhos realizados sobre este tema pelo Dr. Rodríguez da Fuente e outros naturistas espanhóis.

A necessidade de se defender do lobo é um fato ancestral que deu origem a rituais religiosos, de tal forma que, no arcaísmo das religiões greco-latinas, encontramos divindades e gênios protetores do gado. Esse é o caso de Pan e dos faunos. Na mitologia Vascã, temos um curiosíssimo gênio protetor; de nome Basajaun, senhor dos bosques. A lenda descreve-o alto, com forma humana e coberto de pelos. Quando este gênio está perto não há perigo de que um lobo se aproxime. A sua presença é anunciada pelas ovelhas com a sacudidela simultânea dos seus sinos. Apesar de se tratar de um homem-lobo de grandes dimensões, tem boas intenções.

De qualquer modo, na península, é na Galiza onde está mais arreigada a lenda do “lobisomem”. Na Europa a lenda é muito popular na Alemanha, e em especial na zona dos Balcãs e dos Cártamos.


Em todos os lugares por onde o lobo tenha vagueado, as pessoas contaram histórias estarrecedoras de homens e mulheres que assumiam a forma de lobos e se alimentavam de gado e de seres humanos. Apesar de em quase todo o mundo se pôr em duvida as histórias de autentica transformação física, não podemos deixar de observar que uma lenda tão disseminada deve representar uma verdade cultural e de comportamento. A maioria dos cientistas rejeitou totalmente os homens-lobo enquanto sujeitos dignos de investigação devido aos preconceitos existentes contra tudo o que signifique transformação mágica.

Continua... Aguarde a Parte VI... 
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