Relatos sobre o lobisomem, imagem de capa da edição deste mês da RHBN, aconteceram na Grécia Antiga e ganharam força com inquisidores até fazerem sucesso nos cinemas
As noites de lua cheia revelam uma antiga maldição: o sétimo ou o oitavo filho homem virá de uma família de seis irmãs/sete irmãos transformando-se em lobisomem. No Brasil, essa maldição varia conforme a região. Existe, ainda, a versão de que o lobisomem seja fruto de uma relação ilícita com um padre. O fato é que os lobisomens são figuras lendárias que estão presentes no imaginário de muitos povos. Os primeiros relatos sobre este ser encontram-se na Antiga Grécia quando Zeus, em estado de ira, transformou Lycaon em um lobo.
Foram dos gregos, também, os primeiros estudos sobre licantropia – termo grego que une as palavras lobo e homem –, um transtorno psíquico de identidade, no qual a pessoa acredita que é um animal. Autores como Galeno e Virgílio acreditavam que a doença era causada pela melancolia e por uso constante de drogas. Atualmente, existem relatórios que falam de casos do transtorno em várias regiões mundo.
No imaginário popular, a licantropia está ligada diretamente à transformação do homem em lobo. Tal fato ocorre porque o lobo é um animal que reúne em torno de sua figura sentimentos dicotômicos, que vão da admiração ao medo. As lendas romenas narram que os dacianos (ou getas, antigos povoadores da Bulgária e Romênia) transformavam seus jovens guerreiros em lobos, num ritual iniciático. Através da magia, as características do lobo fundiam às características do homem, tornando-o mais ágil, forte e com instintos de grande caçador.
Mas foi na Europa medieval que a crença do lobisomem cresceu e se espalhou. Os inquisidores se recusavam a acreditar em lobisomens, mas afirmavam que as bruxas e feiticeiras poderiam fazer com que a pessoa acreditasse que tinha se transformado em lobo. As fontes destacam que ocorreram diversos julgamentos contra pessoas acusadas de lobisonismo.
A imagem da capa mostra a figura tradicional do lobisomem consagrada no cinema através da atuação de Lon Chaney Jr, no filme O Lobisomem (The Wolfman), de 1941, dirigido pelo diretor George Waggner. Chaney interpretou Larry Talbot, um homem atormentado pela maldição da lua cheia. Em 2010, um remake foi filmado pelo diretor Joe Johnston, tendo no elenco estrelas como Anthony Hopkins e Benício Del Toro. O lobisomem foi um tema bastante recorrente no cinema, cabe destacar produções como Um Lobisomem Americano em Londres (An American Werewolf in London), 1981, de John Landis e Lobo (Wolf), 1994, de Mike Nichols. Em todas as propostas cinematográficas é destacado o caráter assustador do monstro, sempre brutal e sanguinário.
Essa imagem tradicional sofreu alterações através dos best-sellers da série Twilight (Crepúsculo) da escritora Stephenie Meyer, que adaptados para o cinema tornaram-se também sucesso de bilheteria em tudo mundo. Nesta proposta, os vampiros e lobisomens são adolescentes andróginos que têm sede de se afirmar, amar e viver. Na sociedade de consumo pós-moderna os monstros fictícios humanizam-se e os homens reais virão monstros.
Clarisse Ismério é historiadora e pesquisadora da Universidade da Região da Campanha (URCAMP)
Lambido de Revista de História
Um comentário:
já li essa revista... é bem interessante. recomendo.
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