Na cegueira de uma noite sem lua, o monstro surge sem ruído algum. Garras, pêlos e dentes. Mas de que importa a forma, se naquele peito forte pulsa um coração sensível? A lua não escuta seu lamúrio de agonia, nem na negritude celeste sua presença é dada. A dor rasgante de uma transformação forçada, na atmosfera carregada de tensão. O ódio causticante e a árdua mágoa correndo em cada veia do seu corpo transmutado tornam cada noite única.
Atingir o ápice da liberdade... Se deixar dominar apenas pelos instintos. Correr sem rumo com o vento tapeando cada lado da face bruta. Brutalidade nunca refletida na angústia do olhar. Cada músculo modificado, cada lembrança retomada, cada trauma marcado em cicatrizes eternas. De que adianta tudo isso, se o mais almejado esta distante? É realmente tão bom ser solitário?
Sim, a força te pertence. Mas somente a força física. A tua alma é estupidamente humana, trágico talvez. Os pés tocando a relva úmida, e sentindo cada vibração da mãe Terra. Cada gotícula de orvalho, cada ruído por mais minúsculo que seja não passara despercebido por seus olhos chorosos e treinados.
Contra a vontade do corpo, mas perdida insistência da razão, volta a ser primata. Os primeiros raios solares dão o ar de sua presença no horizonte. Ardendo nas pupilas acostumadas com a treva intensa. Apesar de gradativa a iluminação, ele fora criado para a noite, a noite habitava seu espírito de lycan. À noite, companheira de desabafos.
Pequeno ser... Humanamente pequeno. Tanta sabedoria é realmente necessária? Sabemos que ela foi adquirida ao longo das varias e especulativas vidas. Essa sabedoria não seria usada agora, nem uma pequena parcela dela sequer.
O brilho da lâmina cegava... Mortal faixa metálica, esculpida na mais pura arte. Utilizada sem o menor dos sentimentos. Sem o mínimo de razão. Tão inútil como o motivo seria o ato. Na enganação de bravura, a honra fora profanada. Almejava-se paz, dói dizer que se frustrou... Empunhando a espada com a lâmina apontando o próprio peito nu, um último suspiro de coragem. Num covarde ato de homem, a gota de sangue nobre, derramou-se no chão imundo.
Um conto de Clara Bispo.
5 comentários:
Nesse conto .. o primeiro comentário tem de ser o meu .. pq ele foi tão perfeito .. tão incrível que sinceramente eu devo dar meus parabéns a essa "Fada de Lobos" ... ela expressou com perfeição aquilo sentimos de verdade ...
vlw biel... escrever é isso né. Codificar sentimentos em palavras. ^^
Está muito bom mesmo, bem que o Biel elogiou!!!
O texto está bem feito, está muito bem expressado, pelo o que eu sei e notei!!! Está de parabéns Clara!
Belo conto! Descrição boa de cada sentimento, importante lembrar, sentimento humano q ainda resta no ser.
Quem dera essa reflexão comportamental, tb fosse geralmente colocadas nos filmes, o q é bem difícil mostrar um tipo de sentimentalismo profundo, reflexivo dessa maneira.
Parabéns a autora Clara.
Muito bom mesmo! Uma ótima descrição mesmo!
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