terça-feira, 22 de maio de 2012

Argus, o cão de Ulisses



O cão de Odisseu fala a Antônio Cabrita

não sei há quantos anos te espero
e eis que regressas mendigo e velho

reconheci-te Odisseu
gostaria de me ter erguido ir ao teu encontro
pousar a minha cabeça com a fidelidade destes anos
em tuas mãos gretadas pela demorada viagem
mas eu estou trôpego e quase cego
mal consigo arrastar o etéreo peso dos ossos
e quase não pressenti o cheiro dos teus passos

olhaste-me sabendo que eu te reconhecera
e te esperara pacientemente para morrer
deixa lá
talvez seja possível partilhar uma outra vida
quando nos reencontrarmos
na derradeira travessia do Aqueronte
mas agora vai não demores mais
vai Odisseu
e diz a Penélope que já pode terminar
a interminável e triste tapeçaria


in Transumâncias (O Medo) - Al Berto


O Velho Cão De Ulisses

 Velho cão de Ulisses é outra Penélope,
mas com olhos que enxergam
dentro dos olhos de quem olham.
Olhos que sabem descansar
numa almofada de serenidade
debruada a fidelidade.
Olhos gastos
que já viram tudo,
mas recusam fechar-se
na desistência e não confundem
a casca com o fruto.
Aguardam com paciência
as alegrias do reencontro.


Brissos Lino

Um comentário:

Anônimo disse...

Argus o cao de Ulisses, eu a ja li esta historia varias vezes e todas as vezes eu tenho a mesma imagem em minha mente, bastante interessante, me fez até lembrar o Hachiko

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