sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

°Entre Bruxas e Lobos...


Por Nigel Jackson

Além dos limites da aldeia, além dos limites do mundo familiar, dos lugares selvagens e isolados nos cercam a obscuridade aterrorizante da destruição exterior. Longe, os lobos assombram as antigas florestas tenebrosas do seu mestre Cernunnos, e seus olhos brilham de uma luz sinistra.
Os animais de cor cinza e magros vagueiam sobre as pedras e uivam nos rochedos escarpados em uma assustadora homenagem a Nossa Senhora dos lobos, a cruel senhora deles que é a Abominável bruxa. Por esta razão o mundo de Hel / Annwyn é o domínio da morte, do mistério e do poder.

O lobo sempre teve o poder de provocar um “terror santo” em nossa consciência hereditária mais profunda e penetra nas profundezas escondidas de nossa memória atávica. O antigo conhecimento dos lobos e daqueles que se transmutam em lobos conserva telas importantes dos Mistérios do Lobo da antiga Europa. O culto lycantrópico nos leva longe no passado na antiguidade indo–européia o que é atestado pelo Clã Indo–Iraniano chamado Haumavarka (Os Lobos Haoma). Isto nos mostra que os antigos guerreiros “vestidos de pele” utilizavam a droga sagrada Haoma (anamita muscaria) para atingir suas transformações em lobo. Odin e seus dois lobos, Geri (avidez) e Freki (do corvo) igualmente legaram o sombrio dom da fúria dos lobos às tropas de elite dos guerreiros de Ulfedhnar nos Países do Norte.

A saga irlandesa do século XIII, d”Egil” nos fala de Ulf Bjalfason que conta que “Cada dia quando chegava a noite, ele pode ficar doente ao ponto que ninguém pudesse lhe falar e que ele é obrigado a se deitar sem demora. Se dizia que ele mudava de aparência e as pessoas o chamavam Kveld Ulf (Lobo da Noite)”. A visão escatológica norroise é dominada pelo aterrorizante lobo Ferris, que libera o ragnarock, o “crepúsculo dos poderes divinos” que anuncia a destruição do ciclo do universo. Os norrois dizem que a constelação das Grandes Mandíbulas do Lobo parece ameaçar a ordem soberana da Estrela Polar, Tyr, o Eixo Cósmico.

Pinturas sobre tumbas etruscas mostram Hades, o senhor do mundo subterrâneo, segurando uma cabeça e a pele de um lobo assim como um gorro o que se subentende uma ligação entre o animal e a morte. Antigamente, em todos os lugares nos Países do Norte, um fora da lei, um assassino ou um profanador eram chamados de “Vargr” ou lobo. Eles eram banidos da tribo ou da comunidade e deviam viver nas terras selvagens, e qualquer pessoa podia matá-los sem temer as represálias porque eles já estavam simbolicamente mortos”.

Igualmente, grupos de guerreiros xamânicos se identificavam extaticamente com um lobo no momento de suas simbólicas mortes iniciáticas.Com os Exércitos Furiosos dos Mortos, eles viviam e agiam fora da ordem normal das coisas, o que se caracteriza por transformações lycantrópicas e por uma sinistra fúria mágica. Odin, o “Deus dos Enforcados”(Hangatyr) é o mestre dos cadafalsos – o que se chama de Árvore dos Enforcados (Varagtreo) entre os Anglo–saxões.Estes mistérios do xamanismo ligados ao lobo algumas vezes são preservados como tradições hereditárias no seio de certas famílias.

O escritor da Idade Média Giraldus Cambrensis conta que membros de certos clãs gaélicos nos arredores de Ossory na Irlanda tem o poder de se transformar em lobo durante um período de sete anos. Shakespeare fala sobre isto quando diz:”- É como uivos para a Lua, os lobos irlandeses, que tanto vós amais”.As tribos Scythes Neuroises que viviam próximo do Mar Negro submetiam-se as mesmas transformações e cada um se transformava em lobo alguns dias do ano. Em toda a Alemanha as Doze Noites de Yule eram o momento onde os lobos se tornavam particularmente ferozes, os fantasmas, as bruxas e a Caçada Selvagem estavam ao redor das aldeias e os raros eleitos se transformavam em lobos e vagavam na escuridão. Na Lituânia e na Prússia era proibido de pronunciar a palavra “lobo” no Yule.

Plínio, conta uma interessante estória de xamanismo lycantrópico na Arcádia: O iniciado era designado pela adivinhação e se dirigia a um pântano sagrado onde ele amarrava as suas roupas a um galho de carvalho.Assim ele deixava simbolicamente a sua forma humana e sua identidade.O iniciado nadava em seguida nas águas de um lago e atravessava as águas fronteiriças entre os mundos.Do outro lado ele se transformava em lobo e corria com as tropas do Outro Mundo durante nove anos antes de retornar ao corpo humano.Este culto do loup garou existe em toda a Europa desde os tempos mais longínquos.Ele está também ligado aos totens xamânicos dos clãs e as sociedades guerreiras iniciáticas que invocam os poderes do lobo em seus ritos misteriosos e em suas práticas mágicas.

Após o início da era cristã estas fraternidades lupinas se deslocaram e os segredos de sua magia lycantrópica foram preservadas só por pessoas isoladas e por alguns grupos ocultos ao longo da Idade Média. No culto bruxo medieval, os xamãs loup–garous e certas bruxas continuaram a prática dos mistérios lupinos. Encontramos esta lembrança dentro dos ritos populares do solstício de verão da Fraternidade do Lobo verde em Jumieges na Normandia e no folclore alemão ligado ao lobo de centeio (Roggenwulf). As técnicas mágicas da bruxaria lupina e lycantropia parecem ter evoluído em direção a “morte” simbólica de iniciados, a comunhão mística com o Senhor das Florestas e com a Deusa da Morte. O iniciado se despe e passando para o Outro lado das águas ele recebe ritualmente uma pele de lobo com Sete anéis (ou cachos). Os cantos rítmicos combinados com os efeitos de um bálsamo de gordura de lobo e de certas ervas fazem fremir o lobo – iniciado.Tudo isto constitui uma disciplina mágica arcaica que tende a induzir o iniciado a um estado modificado de consciência.

No “transe lupino” o campo de energia de mutação seria liberado e o Hamr, o envelope da alma ou a sua “pele” seria projetado sob a forma de um lobo que serviria de veículo para a consciência do xamã. Esta experiência implica em uma comunhão com a “alma animal” no nível do subconsciente ancestral. Diz-se que Odin era o mestre da arte destas mudanças e os adeptos confirmam possuírem um grande poder pessoal e podem efetivamente afetar a percepção consciente de uma testemunha que perceberá a mudança de forma. Os videntes e aqueles que têm poderes psíquicos poderiam descrever as formas animais sob as quais se escondem as bruxas para se deslocarem.

Na Idade Média estas práticas eram condenadas pela igreja e a lycantropia das bruxas – loup–garous era punida de maneira muito cruel por ocasião dos ataques cristãos contra a fé pagã popular. Três lobos–bruxos foram enforcados em Poligny em 1521, e se diz que em Bordeaux o lobo–garou Jean Grenier adorava o Senhor da Floresta. No século XV as bruxas de Valais confessaram ter tomado a aparência de lobos e de terem atacado o rebanho. O culto do lobo–garou parece ter existido nas regiões Balto–eslavas sob a autorização do “campeão – mais velho” *** Volkh o Bruxo que possuía a sabedoria oculta dos poderes lycantrópicos.

Por ocasião de um processo de bruxaria em Livonie em 1692, um velho homem confessou ser um lobo–garou. Por ocasião do Yule e da noite do Solstício de Verão ele caminhava sob a terra em companhia de outros lobos–garous armados de chicotes de ferro e no Mundo Sob a Terra eles combateram as forças malévolas do caos e dos seres malévolos que tinham cabos de vassouras no rabo de seus cavalos. Eles combatiam para terem boas colheitas. Em Livonie os membros do culto lobo–garou se reuniam nas florestas na lua cheia, e seus ritos eram conduzidos por um sacerdote chamado Meza tevs ou “O Pai da Floresta”.

Olaus Magnus descreveu como os lobos-garous atacavam os homens e os estoques de víveres em toda a Prússia, a Lituânia e a Livonie durante as Doze Noites de Yule. No decorrer do século XVII os camponeses lituanos se reuniam neste período para sacrificar uma cabra e oferecê-la aos espíritos–lobos. Esta prática lembra o sacrifício de uma cabra durante a lupercália da Roma Antiga, as festas de Pan como divindade lupina. Um velho provérbio polonês diz que uma pessoa agitada “corre em círculos como alguém que usa uma pele de lobo no Natal”. Trata-se de uma alusão as danças extáticas ou aos dramas que se representa.

Os Taltos, os bruxos–xamãs Magyar da Hungria são reputados serem os filhos de um lobo e de uma mulher tomada desguarnecida nas florestas selvagens. Em Guernesey o Monte Varouf é assombrado pelo Varou, um lobo–garou sedento de sangue que vive nas ilhas anglo–normandas.
Os laços entre a lycantropia e a bruxaria remontam longe na consciência mágica indo– européia, mas outras culturas apresentam paralelos significativos. Os Índios Navajos têm um só nome para designarem a bruxa e o lobo. O Vodu haitiano preserva um conhecimento dos lobos–garous um pouco influenciado pela tradição bretã.

Grupos de bruxos malévolos pertencendo ao culto Zobop vagueiam na noite à procura de sangue para beberem. Na tradição vodu, os videntes chamam a cauda dos cometas “ninhos de lobos–garous”, porque, de noite, elas sinalizam os rastros luminosos dos lobos através do céu, o que lembra as antigas constelações norroises da Grande e da Pequena Mandíbula de Lobo.

Um comentário:

Luis Aguiar disse...

Oi,
Sou Luis Aguiar, blog "Olhos de Lobisomem" e queria saber qual a fonte das artes (figuras) deste blog.
Agradeço desde já.

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