Bons Tempos... Velhos Tempos

A Lua prateada iluminava aqueles corpos suados e o som distante de uma alegre música mostrava que uma festa animava a cidade naquela noite. Era dia de um famoso santo local e quase todos do vilarejo estavam reunidos na festa, havia alguns que gostavam sim de festas, mas outros tipos delas.

Do ponto mais alto da montanha que cercava a cidade, eles viam tudo, acompanhavam o desenrolar da festança e aguardavam que o restante da alcatéia fosse chegando. Cada novo lobo era uma celebração, claro que sempre naquele estilo animalizado, quase que violento, que eles faziam a questão de manter.

- Estão todos aqui? – a pergunta do líder ecoava em meio aos gritos frenéticos de homens e mulheres, crianças e adultos – Perfeito! Eles celebram em nome de um santo, mas nós celebramos por uma deusa, nossa Deusa!

As palavras davam mais forças ao enorme bando no alto da montanha, suas peles aqueciam cada vez mais, os olhos sempre voltados à morada da grande Deusa, um lindo coro de uivos se forma. Algo pareceu estranho por alguns segundos, um som buzina seguido da colisão de dois carros na rua de baixo atrapalha tudo.

- O que foi isso minha nossa?!

O jovem lupino acorda assustado, vê a Lua pela janela e dá-se conta de que sua maravilhosa noite não passava de um sonho. Suas mãos já estavam diferentes e sua face deformada, não se lembrava de ter sonhos tão reais quanto aquele, a ponto de transformá-lo. O rapaz leva as mãos à cabeça enxugando o suor, em seguida olhando os dedos úmidos e fala tristemente em sua casa:

- Que pena minha Deusa, nem se quer nossas celebrações podemos mais fazer. Mundo moderno estúpido! Saudades desses tempos... Bons tempos... Velhos tempos!